Em participação no FAMA, CEAS expõe luta em defesa do Rio Pardo

O segundo dia do FAMA contou com uma vasta programação e representações de diversos países de todos os continentes. Realizada na Universidade de Brasília, as discussões perpassaram pela questão dos recursos hídricos numa perspectiva global, mas também trouxe situações específicas das bacias hidrográficas.

O CEAS pode participar de dois espaços durante este dia. A primeira atividade sobre mineração na América Latina contou com companheiros da Colômbia, Honduras e Guatemala, que expuseram situações muito semelhantes com o que acontece no Brasil devido à exploração mineral feita por grandes multinacionais e corporações, a exemplo das experiências do Vale do Rio Doce no Espírito Santo e a recente exposição da poluição provocada pela exploração de bauxita na região de Barcarena no Pará.

A segunda atividade que o CEAS esteve foi um diálogo sobre o estresse hídrico, organizada pela HEKS e FAO, na qual foi apresentada uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Técnica de Berlim, envolvendo o uso da água demandada pelos produtos importados pela União Européia. Nessa pesquisa foi apresentada um recorte sobre a origem de produtos, destacando estados brasileiros. O caso da Bahia foi enfatizado por conta da quantidade de agua usada na produção de café, especialmente no vale do Rio Pardo, região que o CEAS atua. A partir dessa pesquisa, chegou-se a conclusão que para produção de uma xícara de café são necessários 130 litros de água, recurso que falta para a população ribeirinha, pois está aprisionado pelos irrigantes para produção do café para exportação.

Ressalta-se o fato de que a discussão sobre a água na produção para agroexportação precisa estar contextualizada em uma dimensão sistêmica, ou seja, o recurso usado para atender um modo de produção capitalista, voltada ao lucro, e não para a alimentação que atenda às necessidades humanas. Nesse sentido, é preciso ter em conta as relações conflituosas entre os usuários da água para irrigação e do campensinato, ribeirinhos, trabalhadores/as do campo em geral, que vêem a água como fonte de vida, como fonte de renovação do próprio ciclo natural. Portanto, o debate em torno dessa temática tem que contemplar a produção dos sujeitos coletivos que vão contestar o uso mercantil, do contrário, não passará de mera discussão acadêmica, sem efeitos sociais concretos.

Foi nessa perspectiva que o CEAS apresentou a pesquisa, que realiza junto com a UFBA, apoiada pela HEKS, sobre a bacia do Rio Pardo, com o objetivo de subsidiar as comunidades ribeirinhas para esse enfrentamento. A pesquisa já aponta dados interessantes, como por exemplo, apenas 131 irrigantes se apropriam de cerca de 90% de toda água do rio, destinando 160 trilhões de litros para irrigar 20 mil hectares de café, quando eles tem outorga para usar apenas metade desse montante.

Em suma, a água está sendo sequestrada por uma pequena parte de empresas capitalistas deixando desabastecida cidades inteiras à margem do rio pardo, como é o caso do distrito Machado Mineiro e dos municípios de Encruzilhada, Itambé e Cândido Sales.