10 anos das Jornadas de Junho são tema do “Dois Dedos de Prosa” no CEAS

Em 2013, o aumento do preço das passagens de ônibus em diversos municípios brasileiros foi o estopim para manifestações populares que levaram milhares de pessoas às ruas, sobretudo jovens. As chamadas “Jornadas de Junho” – nome que faz referência aos atos realizados em São Paulo, o epicentro das mobilizações – ampliaram o debate sobre mobilidade urbana no Brasil e dividiram opiniões sobre o real caráter das lutas. 

Foi buscando resgatar o debate sobre as Jornadas de Junho e sua relação com os desafios atuais que o CEAS realizou no dia 19 de junho mais uma edição do Dois de Prosa. Com o tema “Jornadas de Junho de 2013: quais os ensinamentos para as lutas de hoje?”, a atividade contou com a presença de Marcelino Gallo, ex-deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT), e Manoel Nascimento, advogado e ex-assessor da Equipe Urbana do CEAS.

“Esse encontro não é só uma memória, mas também um momento para refletir o que essa jornada, que vem numa esteira histórica de fatos e que se conecta com o debate da mobilidade urbana, do direito de ir e vir, traz de lições”, destaca Maicon Leopoldino, Secretário-Executivo do CEAS. Maicon relembra que as mobilizações em torno da passagem do transporte remontam ao final do século XIX no Brasil, e que a repressão policial foi marca de todas elas. Mais recentemente, em 2003, a Revolta do Buzu, em Salvador, se soma a esse histórico de manifestações massivas e que foram intensamente reprimidas pelas forças policiais.

Manoel Nascimento destaca que falar em “Jornadas de Junho” é focar nas mobilizações que aconteceram em São Paulo, mas que as lutas pelo transporte explodiram por todo país ao longo do ano. “Mais de 500 cidades brasileiras registraram manifestações”, relembra o advogado. Até junho, quando explodiram os atos em São Paulo, cidades como Natal, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Goiânia, por exemplo, já estavam em luta contra o aumento da passagem há meses. “Por isso é mais correto tirar o ‘junho’ e falar algo como ‘lutas de 2013’”, propõe Manoel.

O balanço sobre como a esquerda encarou as mobilizações também foi tema da discussão. Marcelino Gallo destaca que a luta pelo passe livre é uma pauta popular legítima, mas o modo espontâneo como as manifestações se deram surpreendeu parte dos partidos e movimentos progressistas naquele momento. “2013 nos surpreende porque o povo vai às ruas, mas não no formato que a gente estava acostumado anteriormente, que tinha uma direção partidária”, explica. 

Ele ainda destaca que as manifestações expressaram o descontentamento geral daquelas pessoas com a política e que, até hoje, o sistema político não foi feito para elas. “Hoje praticamente não há nenhuma relação desse sistema com a maioria da classe trabalhadora, com os pobres do nosso país. Isso interdita a possibilidade do trabalhador e dos movimentos sociais participarem da política”. E finaliza pontuando a necessidade das ruas seguirem sendo ocupadas. “Precisamos de mobilização social para conseguir uma sociedade verdadeiramente democrática”, conclui. 

O debate contou também com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube Novo Germinal. Para acessar a gravação, clique aqui.