Arquidiocese de Vitória da Conquista cria Comissão de Ecologia Integral e Mineração contra ameaça no Sudoeste Baiano

Fotos: Comunicação CEAS

Diante da crescente ameaça de expansão da mineração na região sudoeste da Bahia, a Arquidiocese de Vitória da Conquista realizou, no dia 25 de outubro de 2025, o I Seminário de Ecologia Integral e Mineração. O evento marcou um passo decisivo na defesa da “Casa Comum” local, com o objetivo primordial de constituir a Comissão de Ecologia Integral da Arquidiocese, que coordenará as ações de enfrentamento aos desafios socioambientais.

O Seminário, resultante de uma parceria entre a Arquidiocese, o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Observatório Rio Pardo Vivo e Corrente, reuniu representantes de cerca de 10 municípios impactados pela nova onda de pesquisa mineral.

O encontro incluiu uma análise de conjuntura que apontou a mineração como o principal fator de risco para a estabilidade socioambiental da região. O avanço da pesquisa mineral em territórios populares tem se concentrado na busca por minerais estratégicos, como lítio, nióbio e terras raras.

Fotos: Comunicação CEAS

De acordo com levantamentos realizados pelo CEAS em conjunto com o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), existem mais de 2 mil processos minerários ativos nos municípios que integram a Arquidiocese, sendo 87,8% relativos a autorizações de pesquisa. Além das buscas por ferro, manganês e quartzo, 679 processos destacam-se por visar minerais cruciais para a indústria de alta tecnologia e a transição energética (lítio, nióbio e terras raras).

Segundo os organizadores, a tendência é o aumento da especulação e do assédio às comunidades, impulsionados pela demanda global por esses minérios, especialmente no contexto da disputa tecnológica entre EUA e China. A crítica central é a falta de transparência na condução desse debate, em particular com as comunidades potencialmente afetadas.

Um dos pontos altos do Seminário foi o relato da Comissão Popular de Itarantim. O município, que enfrenta um intenso assédio minerário desde 2024, demonstrou a eficácia da organização de base ao conseguir a aprovação de uma Lei de Iniciativa Popular. Essa legislação estabeleceu mecanismos de proteção e resguardo das principais serras municipais, criando uma barreira legal contra o avanço descontrolado da mineração e assegurando as reservas hídricas essenciais para os agricultores familiares. A experiência de Itarantim serviu como inspiração e modelo de resistência para os demais municípios participantes.

Foto: Comunicação CEAS

A nova Comissão de Ecologia Integral da Arquidiocese nasce com o propósito de traduzir a Doutrina Social da Igreja – em especial a Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco – em ações concretas de articulação e incidência política.

A Comissão planeja dar continuidade ao mapeamento e monitoramento das áreas sob pesquisa e lavra mineral, à formação contínua de lideranças sobre os riscos socioambientais e os direitos territoriais, e à articulação de uma rede regional de resistência que envolva comunidades rurais, movimentos sociais, universidades, escolas e entidades de apoio (como CEAS e CPT).

A iniciativa sinaliza que a luta contra um modelo predatório de desenvolvimento, que vê o Sudoeste da Bahia meramente como uma nova fronteira de commodities minerais, será uma prioridade pastoral e política na região. O Seminário foi concluído com o reforço da necessidade de soberania popular sobre os territórios e da urgência de construir uma rede de defesa da Casa Comum que priorize a qualidade de vida da população em sintonia com os desafios socioambientais.