Atentado contra Annemone Santos, liderança nacional do movimento de catadores, evidencia risco enfrentado por defensores de direitos humanos no Brasil

Annemone Santos em troca de saberes na Gamboa de Baixo, abril de 2025. Foto: Maiara Biase.

No dia 1º de julho de 2025, véspera da celebração da Independência da Bahia, Annemone Santos – coordenadora do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e referência na luta socioambiental – sofreu um atentado a tiros na sede da Cata Bahia, localizada no bairro de São João do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, local onde atua há mais de 15 anos. A ativista escapou ilesa, mas o episódio expõe a crescente violência contra lideranças populares no país.  

Além de mobilizar catadoras e catadores por direitos trabalhistas, dignidade e reconhecimento profissional, Annemone integra o coletivo Guardiãs da APA Bacia do Cobre, que atua na defesa do Parque São Bartolomeu – área crucial para a preservação de matas, cachoeiras e territórios tradicionais de Salvador. O grupo vinha denunciando nos últimos anos o desmatamento acelerado e poluição das águas; a especulação imobiliária vinculada à privatização de parques públicos;  e a “omissão” do poder público perante a exploração predatória do Parque.

Padrão de Violência 

O ataque a Annemone não é isolado. Segundo a Global Witness, o Brasil é um dos países mais perigosos para defensores do meio ambiente e dos direitos humanos, com mortalidade concentrada em mulheres negras e lideranças de comunidades tradicionais. 

De acordo com o Relatório Na linha de frente: violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil, 353 defensoras e defensores de direitos humanos sofreram atentados, e outras 47 foram assassinados no Brasil entre 2021 e 2022, totalizando 400 pessoas vitimadas. Cerca de 60% desses crimes foram cometidos por milícias, grileiros e agentes públicos, segundo dados do mesmo estudo. 

Além disso, a pesquisa evidencia que, assim como Annemone, as mulheres negras são os principais alvos: dos 353 atentados registrados, 67% foram contra mulheres negras — o que reforça a intersecção entre racismo, gênero e violência estrutural, destacando o maior grau de vulnerabilidade a que essas mulheres estão submetidas.

Outro aspecto é a fragilidade dos mecanismos que deveriam proteger esses grupos. Em 2023, ficaram evidentes as fragilidades do Programa de Proteção a Defensoras/es de Direitos Humanos (PPDDH), após o assassinato da liderança religiosa do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), Mãe Bernadete. Ela lutava contra a exploração industrial e a especulação imobiliária que ameaçavam seu território tradicional.  

Após o crime, o então Secretário de Direitos Humanos, Felipe Freitas, admitiu publicamente que há falhas críticas nos programas de proteção, tanto em nível estadual quanto federal, como a lentidão na análise de riscos, a falta de recursos e a desarticulação entre as esferas de governo.  

A defesa do território é tarefa árdua, nascida não apenas da necessidade de viver, mas da urgência de proteger histórias, comunidades e futuros. É um ato de resistência que transcende o presente — preserva legados ancestrais, guarda a natureza como bem comum e assegura vida digna às próximas gerações. Annemone Santos e as Guardiãs da APA Bacia do Cobre personificam essa luta, enfrentando não apenas a violência explícita, mas um sistema que criminaliza quem defende a terra e os direitos mais básicos.

Exigimos investigação do atentado e desejamos a Annemone vida longa, segurança e força! 

A luta continua – porque nenhum/a defensor/a deve morrer por um mundo mais justo!

Comunicação CEAS