Comunidades da Bacia do Rio Pardo promovem mutirões em defesa do território

Mutirão de construção de viveiro em Mandim, Itarantim-BA / Comunicação CEAS

Na luta pela preservação de seus territórios e pela busca de alternativas econômicas sustentáveis, comunidades da bacia do Rio Pardo, no sudoeste da Bahia, estão unindo forças para proteger nascentes, construir viveiros de mudas e implementar Sistemas Agroflorestais (SAFs). Essas iniciativas, além de contribuírem para a recuperação ambiental, geram renda e promovem a produção de alimentos agroecológicos de alta qualidade, fortalecendo a autonomia e a resistência das populações locais.

Na última semana, dois viveiros de mudas foram construídos por meio de mutirões nas comunidades de Manjerona, em Encruzilhada-BA, e Mandim, em Itarantim-BA. Outra ação coletiva ocorreu em Lagoa Verde, comunidade localizada em Cândido Sales, onde um viveiro construído no ano de 2019 recebeu um sistema fotovoltáico para o funcionamento de sistema de irrigação para as mudas produzidas. As atividades reuniram cerca de 100 pessoas nas três localidades, incluindo crianças e jovens, que participaram desde a preparação de refeições até a montagem das estruturas dos viveiros. O processo reforçou a autonomia das comunidades na gestão e no planejamento desses espaços.

Os viveiros têm como objetivo principal produzir mudas para reflorestamento e para a implantação de SAFs, sistemas que integram árvores e cultivos agrícolas, promovendo a recuperação de áreas degradadas e a geração de alimentos saudáveis. Outra prática desenvolvida pelas comunidades para a defesa territorial dos bens hídricos, são os cercamentos de nascentes, uma prática essencial para garantir a proteção dos bens hídricos, cada vez mais ameaçados pelo avanço do agronegócio, da monocultura de eucalipto e da mineração na região. No último período, foram cercadas 3 nascentes nestas microbacias onde estão sendo construídos os viveiros. Desde 2019, 14 nascentes já foram cercadas na porção média da Bacia do Rio Pardo, totalizando uma área de proteção equivalente a 10 campos de futebol.

O Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) em parceria com a Heks (Agência de Cooperação Suíça), comunidades, universidades e movimentos sociais tem contribuído com as comunidades nesse processo, destacando a importância das iniciativas para o fortalecimento econômico e político das populações. Além dos cercamentos de nascentes e construção dos viveiros, o CEAS aposta na formação política para garantir a autonomia e a defesa dos territórios frente aos impactos causados pelo grande capital.

Resistência popular às ameaças do agronegócio e da mineração

A Bacia Hidrográfica do Rio Pardo vem enfrentando ameaças de grandes empreendimentos, como a expansão do agronegócio, a monocultura de eucalipto e projetos de mineração. A utilização de pivôs centrais para irrigação de lavouras destinadas à exportação, a especulação mineral e a discussão do projeto de um mineroduto tem preocupado as comunidades quanto ao futuro no território.

Através da Articulação Rio Pardo Vivo e Corrente, as comunidades vem realizando ações de fortalecimento e de defesa dos territórios. Em 2024, representantes de diversos territórios se reuniram no “Intercâmbio entre as comunidades do Baixo Rio Pardo e Porto Sul” em Canavieiras, na  “2ª Missão das Águas” em Ribeirão do Largo e na “3ª Romaria da Terra e das Águas” em Mascote e Santa Luzia. Além de espaços de reflexão, as atividades contribuem decisivamente para uma atuação em rede dos lutadores e lutadoras do Rio Pardo.

Além de ações inter-territoriais, a Articulação realizou a Audiência Pública “Pesquisa e Mineração nas Serras do Entorno da Cidade de Itarantim” para discutir com a população do campo e da cidade sobre a pesquisa e a prática das empresas que sondavam o nióbio em propriedades sem a devida autorização. A audiência ocorreu um dia após uma comunidade expulsar a empresa de seu território, processo fruto da mobilização da audiência.

Agroecologia para a construção do poder popular

Enquanto o agronegócio e a mineração avançam, as comunidades da bacia do Rio Pardo mostram que é possível conciliar a preservação ambiental com geração de renda no campo. A produção de alimentos agroecológicos, além de garantir a segurança alimentar das famílias, tem conquistado mercados locais e regionais, valorizando os saberes tradicionais e as formas sustentáveis de produzir.

Os mutirões realizados nas comunidades de Manjerona, Mandim e Lagoa Verde são exemplos concretos de como a união e a organização coletiva podem transformar realidades. Ao proteger nascentes, construir viveiros e implementar SAFs, essas comunidades não apenas resistem às ameaças externas, mas também constroem o poder popular dentro de seus territórios.

A luta das comunidades é um exemplo de resistência e de construção de alternativas frente aos desafios impostos pelo modelo de produção predatório em que vivemos. Através do trabalho coletivo, essas populações demonstram que é possível conciliar a preservação ambiental com a geração de renda e a soberania alimentar.

A organização coletiva, fortalecida por iniciativas como mutirões e articulações interterritoriais, revela a força do poder popular na defesa dos territórios e na construção de um futuro mais justo e sustentável. Ao enfrentar o capital agro-minero-exportador, as comunidades da Bacia do Rio Pardo plantam sementes de esperança, revelando que outro modelo de desenvolvimento não só é possível, como necessário.

Mandim, Itarantim-BA / Comunicação CEAS

VIVA O PODER POPULAR! RIO PARDO VIVO E CORRENTE!