Experiência agroecológica transforma a vida de comunidades na Bahia

Rede de Agroecologia dos Povos da Mata recebeu prêmio de tecnologia social
Atualmente, uma das grandes preocupações da população brasileira é o consumo de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos. A agroecologia se apresenta não só como um projeto capaz de dar resposta a esta demanda social, mas também como uma alternativa, construída pelos povos e movimentos sociais do campo, ao sistema agroalimentar hegemônico capitalista, que tem como característica, além do uso dos venenos, o monopólio de todo sistema de produção, circulação e venda de alimentos.
Os números de experiências agroecológicas exitosas aumentam a cada dia, espalhadas por todo país. Uma delas é a Rede de Agroecologia dos Povos da Mata na Bahia, que no mês de novembro deste ano recebeu o prêmio de tecnologia social da Fundação Banco do Brasil.
A Rede é composta de quilombolas, indígenas e camponeses/as do extremo sul, litoral sul, baixo sul e semi-árido baiano, articulados a partir do Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade (OPAC), que possibilita a certificação de forma participativa dos produtos orgânicos e garante a interação de produção e venda direta ao consumidor, principalmente a partir das feiras agroecológicas. Dessa forma, elimina-se a figura do atravessador, personagem que tipifica a apropriação do trabalho dos povos do campo. Esta forma de organização tem uma intenção política fundamental: promover o diálogo necessário entre campo e cidade. Além da garantia da qualidade do produto, o consumidor se torna consciente sobre o processo produtivo como um todo, dando visibilidade e valorização ao trabalhador e trabalhadora do campo, alertando para a necessidade da reforma agrária e da construção de novas relações sociais e com a natureza.

Para Luciano Ferreira, camponês, militante do CETA – Movimento dos Trabalhadores(as) Assentados(as) e Acampados(as)  e coordenador do Núcleo Pratigi da Rede, “a conquista do prêmio representou para os agricultores e agricultoras um reconhecimento importante para o fortalecimento da agroecologia e produção de alimentos na Bahia, entendendo que essa ferramenta do Sistema Participativo de Garantia, agora reconhecida como uma tecnologia social, garante as condições para que nós, camponesas e camponeses, possamos ter a certificação e assim comercializar os alimentos de forma direta com os consumidores”, explica.

feira  Comunidades comercializam a produção saudável e diversa em feiras agroecológicas / Reprodução de vídeo

Comunidade Dois Riachões –  exemplo de área livre de agrotóxicos e transgênicos

Situada no município de Ibirapitanga no território do baixo sul da Bahia, a comunidade Dois Riachões é um pré-assentamento do CETA e abriga 40 famílias, que há 15 anos ocuparam a antiga fazenda onde só havia cacau e gado, e hoje tem mais de 50 variedades de frutas e hortaliças.  Vinculada à Rede de Agroecologia Povos da Mata, a experiência da comunidade, na qual Luciano e sua esposa Elismária Silva de Oliveira vivem e produzem, foi escolhida para ser apresentada no vídeo da premiação (veja aqui).

Mesmo sendo este exemplo inspirador de transição agroecológica, a população de Dois Riachões ainda luta para receber a posse da terra.  “Esse prêmio também chama a atenção para a necessidade da realização da reforma agrária e das demarcações de terras indígenas e quilombolas no Brasil para que, junto com um conjunto de políticas públicas, possam garantir alimentos saudáveis para toda população”, conclui o militante.

 Por Anaíra Lôbo