Divulgada pelo Governo da Bahia como uma consulta “livre, prévia e informada” sobre a Ponte Salvador-Itaparica, a reunião realizada no último 5 de julho, em Mar Grande (Vera Cruz), tornou-se um marco de resistência.

Movimentos sociais, povos de terreiros, comunidades indígenas, quilombolas e pescadores da Ilha de Itaparica expuseram publicamente os reais impactos e interesses ocultos por trás da Ponte Salvador-Itaparica. De forma didática e contundente, as lideranças demonstraram como o projeto prioriza interesses econômicos em detrimento das populações tradicionais.
Diante dos dados técnicos e relatos sobre os reais prejuízos, representantes do Governo do Estado e do consórcio responsável pela ponte não souberam responder a questionamentos básicos das comunidades, como o real prazo da obra, os impactos socioambientais para as populações locais e as afetações das comunidades tradicionais e bairros negros da Ilha e de Salvador.
Representantes das organizações populares denunciaram ainda que não se pode chamar de prévias tais consultas, pois as perfurações para as sondagens – e seus impactos negativos – já estão em curso. Neste sentido essas reuniões ferem o artigo 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Além disso, as comunidades denunciaram as carências históricas de políticas públicas na Ilha de Itaparica, que as autoridades insistem em ignorar, tratando como não prioritárias. A população denuncia, principalmente, a falta de serviços e equipamentos públicos de saúde, como hospitais adequados, maternidades e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs); descaso na educação, a exemplo das creches públicas, escolas técnicas e universidades; e a precariedade do transporte, como indicam as reivindicações por melhorias no Sistema Ferry-Boat.
“Enquanto o governo impõe um projeto que só beneficia grandes empresas, nós seguimos sem o básico para viver com dignidade”, denunciou uma liderança da Ilha de Itaparica.
Outra grande preocupação é o crescimento populacional que a ponte trará, sem resolver as questões levantadas acima.
O processo anti-democrático da realização da Ponte Salvador-Itaparica e a atuação das organizações populares têm demonstrado que este “não é um projeto para o povo”, mas sim uma estratégia logística para escoamento da produção mineral e agrícola do Oeste baiano, que se integra a Ferrovia Oeste-Leste (FIOL) e o Porto Sul em Ilhéus, megaprojetos que além de facilitar o saque dos nossos recursos, devastam territórios tradicionais e ambientais. Enquanto o governo fala em “desenvolvimento”, as comunidades sofrem com a falta de transparência e a ameaça a seus territórios e modos de vida.
Os movimentos sociais reafirmaram a posição contrária à construção da ponte e seguem questionando:
Ponte para quem?