Jovens da Bahia e Minas Gerais debatem desafios para a defesa da Bacia do Rio Pardo

Entre os dias 21 e 23 de abril, a articulação Bahia – Minas em torno da defesa da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo realizou o primeiro Intercâmbio de Formação de Jovens do Rio Pardo na comunidade de Atalaia, em Canavieiras (Bahia). O encontro, realizado no território de unidade de preservação dos povos tradicionais pesqueiros e da agrobiodiversidade marinha na Reserva Extrativista Resex-Canavieira, teve como objetivo fortalecer a compreensão e organização dos jovens dos territórios em torno da bacia do Rio Pardo com relação aos desafios da região, marcada por diversos conflitos ambientais e disputas com o agronegócio. 

A atividade foi articulada e apoiada pelo Centro de Estudos e Ação Social-CEAS; Associação Mãe dos Extrativistas da Resex de Canavieiras – AMEX; Associação dos Pescadores, Marisqueiros e Moradores de Comunidade de Atalaia – APEMA; Comissão Pastoral da Terra-CPT; Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas-CAA; e pelo Movimento Estadual dos Trabalhadores Assentados Acampados e Quilombolas- CETA.

Luta coletiva em defesa do rio e da vida

O intercâmbio contou com cerca de 25 jovens do médio e baixo Rio Pardo, dentre eles camponeses de comunidades ligadas à agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais e de reforma agrária, pesqueiros, marisqueiros e que estão organizados em movimentos sociais, associações comunitárias e coletivos de cultura e de jovens. Em comum, eles trazem histórias de luta relacionados aos conflitos sobre a gestão das águas da bacia e o desejo de fortalecer essa resistência de forma coletiva.

“É preciso lutar contra um inimigo nosso em comum, o capital”, sintetiza a jovem Bruna, da comunidade de Cachoeira I, em Ribeirão do Largo. “Porque ele é o responsável pelos conflitos em torno do Rio Pardo, se não, não iremos conseguir barrar os que causam a morte do Rio e nem conseguir cuidar das áreas já preservadas”, completa. 

Dentre os conflitos na região da bacia apontados pelo grupo na formação, a irrigação do café é um dos desafios centrais. De acordo com a cartilha “Gestão da Água do Rio Pardo”, elaborada pelo CEAS, pela Articulação Bahia-Minas em defesa do Rio Pardo e pelo Observatório Rio Pardo Vivo e Corrente, a irrigação consome cerca de 89,52% do volume das águas outorgadas; apenas 8,7% do volume vai para abastecimento humano e 0,5% para esgotamento sanitário. Nesse sentido, a luta contra a expropriação e apropriação das águas do Rio Pardo é uma questão fundamental para a sobrevivência do meio ambiente e dos povos e comunidades que dependem direta ou indiretamente das águas do rio.

Além dos debates, os jovens também realizaram uma vivência na comunidade de Campinhos, cujo percurso foi feito de barco em mar aberto. Visitando uma parte dos quase 100 mil hectares do território, o grupo pôde experienciar um pouco do que é a sobrevivência do povo pesqueiro e marisqueiro da Resex de Canavieira, que resiste no território há mais de 400 anos.

Ao fim do encontro, os jovens elaboraram um planejamento destacando diversas lutas e ações necessárias para o próximo período. Com muita firmeza e disposição, o grupo finalizou a atividade com a certeza da necessidade de seguirem juntos e articulados. “É necessário intercambiar os saberes para nos redescobrirmos. Aqui, as águas do Pardo é nosso elemento de interconexão com o divino e com o próximo, por isso devemos ter clareza do nosso estado de permanência e de onde estamos”, sintetiza Clodoaldo Silva, assessor do CEAS e militante do CETA Sul, sistematizando a discussão do grupo.