Quilombo Lagoa de Melquíades e Amâncio recebe Pré-jornada de Agroecologia do Sudoeste Baiano

Com uma programação diversa – entre oficinas, rodas de conversas e plenária – foi realizada a Pré-Jornada de Agroecologia do Sudoeste Baiano, no Quilombo Lagoa de Melquíades e Amâncio, em Vitória da Conquista, nos dias 27, 28 e 29 de setembro. Membros da equipe urbana e rural do CEAS estiveram presentes durante toda a atividade.

A abertura do evento, na noite do dia 27, contou com o Batuque do Quilombo, apresentação feita pelos jovens quilombolas e uma mística apresentada pelo Grupo de Mulheres Crioulas do Quilombo. Em seguida, Tiago, articulador e liderança do Quilombo Lagoa de Melquíades e Amâncio, fez a fala de abertura ressaltando a importância da realização da pre-jornada para o fortalecimento daquele território de identidade quilombola. Ele leu uma carta que conta a história da comunidade, desde o início da ocupação por Melquíades e Amâncio que tanto inspiramos jovens da comunidade a continuarem em luta.

Na mesma noite, ainda teve espaço para uma breve análise de conjuntura, apresentação da Teia dos Povos e debate sobre formas de articulação dos povos e comunidades na Bahia, que contou com representantes das organizações, comunidades, movimentos, assessorias e da Universidade, como parte da articulação e apoio à construção da Pré- Jornada.

No sábado, pela manhã, foram realizadas oficinas de práticas agroecológicas: Sistemas Agroflorestais, que resultou na construção do PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável),  um sistema de plantio consorciado; Águas cinzas, que produziu um sistema de reaproveitamento de água; e de Sementes Crioulas com doação de algumas espécies para criação de banco de sementes.

E em seguida, uma roda de conversa sobre “Agroecologia para o desenvolvimento de quilombolas e camponeses”, que contou com exposição de Jacqueline Lemos da CEDASB reafirmando a agroecologia como um conjunto de saberes tradicionais ligados à uma prática transformadora. Ainda na tarde de sábado, Flávio Passos do Cursinho Pré-vestibular Quilombola, iniciou o espaço “Educação no campo, educação quilombola da comunidade à Universidade”, que debateu a importância da capacitação de professores/as para atuar no campo, especialmente nas comunidades quilombolas a partir do reconhecimento das diferenças existentes entre os diversos povos que compõem a diversidade étnica brasileira, sobretudo baiana. Explicou também a diferença entre educação no campo e educação do campo, sendo esta última necessária para contribuir com a luta pelo reconhecimento e afirmação da identidade quilombola/camponesa.

Flávio finalizou o espaço propondo uma dinâmica que consistiu na divisão do público em grupos, cuja tarefa de cada um foi fazer uma breve apresentação sobre princípios identitários africanos, tais como oralidade, corporeidade, religiosidade, ludicidade, circularidade, energia vital, entre outros. Ainda no sábado, foram realizadas as oficinas de Sistema Participativo de Garantia (SPG) e de Agricultura Biodinâmica e Calendário Lunar.

À noite, as assessoras do CEAS, Apoena Ferreira e Nélia Nascimento, iniciaram a roda de conversa “Identidade e Território Negro”, na qual convidaram todas/os à reflexão sobre a história das mulheres que nos antecederam, repleta de dores e de luta em decorrência do projeto de colonização, assim como daquelas que ainda estão por vir, e ao mesmo tempo, estimularam a partir da poesia e da música, a continuidade da luta nesses tempos difíceis. Foi abordado ainda, ao processo de resistência ao genocídio do povo negro e indígena, contextualizando o trabalho que o Ceas desenvolve junto às comunidades camponesas do Sudoeste Baiano, principalmente com as mulheres, através da campanha Mulheres que Ousam Lutar. 

No espaço, surgiram ainda discussões a respeito da relação entre identidade e território, construindo coletivamente o conceito de ambos; da importância da juventude no processo de valorização da ancestralidade e tradicionalidade local; e da importância da auto aceitação da cultura e tradição negra. A noite de sábado foi encerrada com apresentações culturais e artísticas de capoeira, roda de samba e reisado.

O último dia do encontro, domingo, teve início com uma mística retratando a violência e extermínio contra o povo negro e indígena. Logo após, teve início a oficina sobre Mulheres Negras, que objetivou levantar a discussão sobre as opressões de raça, gênero e classe que atravessam a vida da população e estruturam as relações sociais brasileiras. Naquele momento, a participação de homens e mulheres foi essencial para a constatação coletiva, a partir dos relatos,  sobre como essas diferentes questões provocam desigualdades e discriminações.

 

Aconteceu, ainda, uma roda de conversa Articulação, organização e fortalecimento da agroecologia no Sudoeste Baiano: UESB, CEAS, QUILOMBO, MPA e REDE BEM VIVER.  Foi falado sobre a criação e fortalecimento dos espaços  de agroecologia no Sudoeste Baiano, ressaltando a importância de trazer a juventude quilombola e camponesa, principalmente os que já estão nos espaços acadêmicos, a fim de promover a troca de conhecimentos e experiências em torno da luta agroecológica.

Debateu-se também sobre o Programa Camponês, que busca promover a autonomia na produção agroecológica e no circuito de comercialização, desarticulando a figura do atravessador – que compra barato alimentos produzidos sem veneno pelos camponeses/as e lucram com a revenda utilizando o slogan da agroecologia, ou de orgânicos.

O momento gerou um rico debate, que entre tantos apontamentos, levantou possibilidades e questões prioritárias, tais como estudar possibilidades de captação de recursos de modo coletivo para dinamizar a produção, necessidade de promover Sistemas Agroflorestais para diversificar a produção e garantir a preservação ambiental (solo, água, fauna e flora), criar espaços voltados para a juventude e a luta pela educação do e no campo que busque a valorização do modo de vida camponês desde a infância.

Apontou-se, ainda, a possibilidade de articulação entre as comunidades do Sudoeste e o grupo EtiniCidades do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA.

Por fim, a Plenária de Finalização e Avaliação da Pré-Jornada de Agroecologia do Sudoeste Baiano contou com a participação das/os presentes, que puderam além de avaliar, dar sugestões para próximos encontros.