Território e Infância é tema de oficina em área quilombola no sudoeste do estado

Nos dias 22 e 23 de julho, o território quilombola da Lagoa de Melquíades e Amâncio, no município de Vitória da Conquista, recebeu o Centro Alternativo de Cultura (CAC) para uma oficina sobre Território e Infância Quilombola. Com a assessoria de Ingridy Ferreira, educadora popular do CAC, o encontro trouxe muita mística e troca de saberes para discutir a defesa da vida e o combate à violação de direitos contra crianças e adolescentes.

A formação reuniu cerca de 60 pessoas, incluindo mulheres, idosos e crianças, com o objetivo de criar um espaço de autocuidado e de fortalecimento de laços entre a própria comunidade. A partir de conceitos como “território-terra” e “território-corpo”, os participantes construíram uma Cartografia Social da área em que vivem, uma espécie de mapeamento que busca entender como se dão as relações dentro daquele território físico, desde as afetivas até as econômicas. 

“A oficina resgata a necessidade da mística nos nossos espaços. A mística com o território-corpo, com o nosso território-espaço, que é onde a gente vive, planta, colhe. Foi um momento pra pensar sobre onde moramos, sobre os grandes empreendimentos que afetam diretamente a qualidade de vida da população. E que fez com que a comunidade refletisse sobre a necessidade de defender o território para a permanência e a cultura do seu povo”, destaca Edilene Alves, assessora da Equipe Rural do CEAS.

Com banho de cheiro e mística sobre a importância de cuidado com nosso corpo e espírito, o encontro também deu espaço para as crianças se expressarem. Primeiro, elas trouxeram seus “desenhos da casa”, e em seguida, partilharam sobre seus sentimentos e gostos. Ingridy trouxe também a necessidade de diálogo com os filhos e a importância de os pais estarem atentos aos sinais das crianças. 

Para Joctan Moreno, também assessor da Equipe Rural do CEAS, a atividade resgatou as sensibilidades e um novo olhar sobre as crianças. “Essa oficina foi muito importante porque resgata a espiritualidade dos povos da floresta, resgata a necessidade da gente parar, avaliar, sentir, pensar em nós mesmos internamente”, explica. “Além disso, a Lagoa tem um potencial muito grande com as crianças, até porque são elas que futuramente vão assumir a comunidade. Agora vamos dar um encaminhamento em relação a isso, no sentido de ter grupos específicos para trabalhar com as crianças e ter um cuidado maior com elas”, completa.

Edilene também acrescenta que a oficina apontou a importância do cuidado com as mulheres. “É necessário repensar a participação das mulheres nos encontros, porque infelizmente, em muitos dos espaços as mulheres estão na cozinha”, explica. 

A oficina foi finalizada com a construção de uma Mandala de Guardiania das sementes – tanto as sementes que alimentam quanto aquelas que nos ensinam horizontes de futuro possíveis no presente. Uma Mandala de Guardiania que fortalece a defesa do direito à infância para todas as crianças.