“Tudo está no seu lugar, graças a Deus”: carnaval e democracia – novos e antigos desafios

Sem querer gerar algum tipo de “polêmica estéril”, mas para “fecundar” o debate, esse Carnaval protagonizado pelos trabalhadores organizados no campo efetivamente traz ALEGRIA! Por aqui, vale a voz do “Boca do Inferno”, o genial Gregório de Matos: “Triste Bahia, ó quão dessemelhante”. Por trás, pela frente e pelo meio do “maior carnaval do mundo”, toda a festa é sustentada por um GIGANTESCO APARHEID ÉTNICO-RACIAL.

Centenas de famílias inteiras (pessoas idosas, notadamente mulheres, jovens e crianças negras), performando ao longo dos três “circuitos oficiais” do carnaval um grande cinturão de pobreza, análoga àquela do período escravagista. A esse triste espetáculo soma-se outro, tão degradante quanto este primeiro, me refiro a essa figura típica do capitalismo da “baianidade nagô”, tão ao gosto das nossas classes conversadoras: os blocos de trio, protegidos pelos “cordeiros” e pelas “cordas”, perfilam outro grande “espetáculo das raças”: porrada e cassetete prá cima das pessoas “remanecentes das senzalas”, notadamente da juventude negra.

É o carnaval engendrado pelo “peticarlismo” (obrigado Samuel Vida!) e por um punhado de artistas-empresários, que engordam suas contas bancárias todos os anos neste período. Este carnaval de Salvador é a cara e o coração das nossas “elites do atraso”. Sonho um dia em que saberemos “dar o troco”. Sigamos acalentado este sonho de “outro carnaval possível”.