Violência e desafios da luta popular são temas de debate no Dois Dedos de Prosa

Diante da escalada da violência nas áreas urbanas e rurais da Bahia nos últimos meses, a necessidade de se debater coletivamente sobre os desafios da luta popular se tornou ainda mais central. Nesse sentido, o CEAS convidou entidades, movimentos sociais e toda sociedade civil para refletir sobre caminhos de enfrentamento a esse problema na nova edição do Dois Dedos Prosa. Com o tema “As faces da violência no campo e na cidade: desafios para a luta popular”, a atividade foi realizada no dia 07 de outubro na sede da entidade e contou com a contribuição de Apoena Ferreira, urbanista e assessora do CEAS, e Lays Franco, advogada da Associação de Advogados dos Trabalhadores Rurais (AATR).

Apoena destaca o caráter racista da violência, que tem atingido sobretudo corpos e territórios negros, e destaca o silêncio e dificuldade das organizações de esquerda em pressionar o governo do estado por soluções concretas. “Essa violência é especializada e territorializada. Estamos numa das piores conjunturas para o povo preto”, ressalta.

As estatísticas mostram a gravidade do cenário. Como apontado em nota do CEAS, o estudo “Pele alvo: a cor que a polícia apaga”, da “Iniciativa Negra por uma nova política de drogas”, registra que 100% das mortes causadas por policiais, notificadas em 2022, eram de pessoas negras. Em Salvador, das 299 pessoas mortas pela polícia em 2022, apenas uma era branca.

Nas áreas rurais, a questão racial também é central ao se analisar quem são as vítimas e territórios atingidos. “A violência se desdobra nas mais diversas formas, sobretudo pra comunidade negra, quilombola”, salienta Lays. A advogada também aponta o papel do Estado no aumento dos conflitos agrários, principalmente pela sua aliança com o agronegócio. “Grande parte dos conflitos de terra hoje são em terras públicas que o Estado poderia regularizar, mas que não é interessante pelo modelo de desenvolvimentos escolhido, que é o agronegócio”, destaca.

No debate, os movimentos e entidades apontaram caminhos necessários para o avanço das suas lutas e preservação da militância, como a construção de iniciativas de proteção e cuidado coletivo, formação de base – sobretudo de mulheres e jovens – e desenvolvimento de estratégias mais claras de defesa dos territórios e comunidades. Os desafios são muitos, mas em comum está a certeza de que resgatar de onde viemos e nos organizar onde quer que estejamos é fundamental para seguirmos vivos, fortalecidos e em luta.